Entrevistas com grandes nomes de nossa história
O nosso objetivo é escrever um novo capítulo da história da imprensa em nosso país, resgatando o que foi publicado, nos últimos 50 anos, por vários jornais e revistas.
A entrevista com a escritora e colunista cearense Rachel de Queiroz, realizada dias antes da publicação da matéria pelo jornal O Estado de S. Paulo (3/11/1985), aconteceu em seu apartamento, no bairro carioca do Leblon, em um prédio construído por seu marido, o médico OBama de Macedo. Sentada, primeiro, em uma cadeira de balanço e, a seguir, no sofá tipo medalhão colonial com flores, que garantia ter sido fabricado em 1953, ela não se limitou a falar acerca de seu novo livro, E contou outras histórias engraçadas como essa envolvendo o poeta e compositor, Vinicius de Moraes: – Certa vez, o poetinha veio ao meu apartamento. Ofereci uma bebida, mas ele respondeu: “– Não estou bebendo”.“– Como não está?” – retruquei e ele respondeu: “– Hoje estou abstêmico. Ai, corrigi o poeta: “– Não é abstêmico e sim abstêmio.” Vinicius não perdeu a pose e afirmou: – Eu digo abstêmico e não abstêmio para parecer doença.” Primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, ao vencer, em 1977, por 23 votos a 15, o jurista Pontes de Miranda, Rachel de Queiros, que morreu no dia 4 de novembro de 2003, aos 92 anos de idade, me disse, em uma outra entrevista que fiz com ela: – Aqui em casa é assim: até as seis horas da tarde, servimos cafezinho; depois, passamos para o uísque.
Ao ser pautado, em março de 1978, para cobrir um acidente na linha da Rede Ferroviária Federal, perto da cidade de Resende, no Estado do Rio de Janeiro, encontrei, por acaso, o guarda-ponte, Manoel Canudo Rocha, e a curiosidade fez com que eu o entrevistasse para saber mais acerca de seu ofício.
Aliás, essa providência foi acertada porque fiquei sabendo qual era a sua atividade profissional e, além disso, de volta à redação do jornal, não encontrei aquela palavra nos dicionários da Língua Portuguesa, apesar de ele ter garantido exercer a profissão como funcionário da RFF por mais de “vinte e dois anos de muitas pontes e noites mal dormidas.”
A entrevista com seu Manuel aconteceu, nas proximidades da ponte sobre o Rio Piratininga, naquela cidade do sul fluminense, bem próximo da divisa com os estados de São Paulo e Minas Gerais, e a reportagem que escrevi foi publicada pelo Jornal da Tarde na edição do dia 9/03/1977.
Acabei, entretanto, deixando de fora do texto algumas das histórias contadas por ele como a de um trem fantasma naquela época, andou assustando seus plantões noturnos já que, geralmente, passava pelas pontes fiscalizadas por ele:
– A assombração durou mais de um mês e aparecia noite após noite, porém a custo de muitas rezas e de café forte para ficar acordado, sem pregar os olhos, acabou desaparecendo. Confesso ter ficado aliviado, não só por conta o medo das almas penadas, mas também por não precisar trabalhar mais todas as vezes que o trem fantasma passava por uma ponte ou eu imaginar estar passando.